Eu era criança quando li em um livro – o qual não lembro o título – algo que mudou o curso de muitas coisas na minha vida daquele período em diante. Se não me falha a memória, o personagem principal era um jornalista que investigava a morte de Chico Mendes, no Acre. Na cena mais memorável, ele havia utilizado suas habilidades adquiridas num curso de garçom para descobrir algumas informações durante um jantar. O fato em si não seria tão relevante se ele não tivesse completado a narrativa com a ideia de que devemos ter ao menos um ofício na vida, mesmo que tenhamos uma graduação com diploma, pois está no ofício a garantia de que jamais morreremos de fome.
Eu desenvolvi meu primeiro ofício por volta dos 10 anos, quando minha mãe me apresentou o fantástico mundo das miçangas. Assim, eu fazia meus colares, montava a tendinha no portão da casa da minha avó e os vendia a 1 real cada. O lucro? Era pra vestir minhas barbies.
Aos 14 aprendi meu segundo ofício. Apercebida das habilidades manuais que eu tinha, minha mãe, que não era boba nem nada e estava acabando de montar um salão de beleza, me matriculou em um curso de manicure durante as férias de julho. Dali aos 18, foi fazendo as unhas das pessoas que eu ganhei meu dinheirinho, nos momentos livres entre as aulas do colégio e os deveres de casa. O lucro? Era pra vestir minha pessoa.
Toda essa prosa só pra contar do projeto da foto, que não tem passo a passo fotografado porque nasceu assim, de supetão. Tudo começou num sábado de manhã de agosto, ao fazer as unhas – já que essa coisa de ser manicure me deixou com a impressão de que ninguém faz minhas unhas tão bem quanto eu-. A ideia veio enquanto eu olhava um vidrinho de extra-brilho vazio. Depois foi só ligar pra minha mãe, que migrou do salão pra uma loja de pequenezas de construção, encomendar a abraçadeira de metal e os parafusos e encontrar um pedaço de madeira. Claro, teve a florzinha também.
Limpei o vidrinho com óleo de banana e álcool, tirando de vez o cheiro de esmalte com detergente neutro. Minha mãe ajudou com a abraçadeira e colocou os parafusos. Em seguida, enchemos com água e pusemos a florzinha. Pronto, um novo artesanato e uma dica esperta de decoração também para as manicures e donas de salão. Agora, tenho que admitir: satisfação mesmo foi revirar essa internet e não ter visto nada parecido com vidro de esmalte + abraçadeira. Acho que foram os olhos do ofício.
E você, já pensou nos seus ofícios e no que eles podem lhe render?
…
Retrospectiva artesanal: checked
Q lindo esse post viajei na sua história
😍Parabéns
Oi Vera! Obrigada por seu recadinho. Fico feliz que tenha gostado. Se a história provocou viagem, sinal de que acertei na trilha das palavras. E isso me deixa muito feliz! 🙂