Meu primeiro contato com Ouro Preto aconteceu em outubro de 2007, bem diferente de como ocorre com a maioria dos mineiros. Não foi em excursão de escola, não foi em algum dos carnavais da vida nem em prova de vestibular, mas numa entrevista que culminaria em meu segundo emprego.
Frio na barriga, expectativa… Pela quarta vez, em um ano, eu me mudava de cidade. E pra uma cidade da qual nada conhecia. Por ironia, era a única da família que nunca tinha ido a Ouro Preto. Sorte que a madrecita, como em todos os momentos, estava comigo. Subimos e descemos ladeira até encontrar a senhorinha que me alugaria o quarto e sala da salvação, já mobiliado. Pronto, podia iniciar o trabalho!
E assim comecei a descobrir Ouro Preto.
Para os turistas que ali visitam, Ouro Preto é história, arquitetura, romance, poesia, restaurantes aconchegantes, comida mineira, namoradeiras na janela, artesanato em pedra sabão, pedras preciosas, Museu da Inconfidência, Praça Tiradentes, festivais diversos…
Para os estudantes que ali passam alguns anos, Ouro Preto é trote de república, social, rock, CAEM, festa do 12, alugar casa em carnaval, chapação e, claro, UFOP…
Para mim, entre tantas outras coisas, Ouro Preto é:
O primeiro pôr do sol inteiramente visto ao som de REM, caminhadas circulares pela praça da UFOP, sapatilhas antiderrapantes nas pedras traiçoeiras, blusa de lã bolorenta, almoço em PFs, sinos despertando aos domingos pela manhã, missa aos domingos à noite, trabalho no festival de inverno, petit gateau da fábrica de chocolate, happy hour no Biz & Biu, trabalhos da (1ª) pós-graduação, despertador às 5 da manhã aos sábados, intensivo de Rocky Balboa (6 filmes em uma semana), filmes da Set palavras, panqueca do Sótão, estandartes no local de trabalho, feijoada do Manjuba às quartas, frio durante a noite, caldo de feijão na Paula, melancolia em dias chuvosos…
A oportunidade de viver como “habitante” fez de Ouro Preto uma cidade diferente pra mim. Um lugar cenário da fase mais intensa e perturbadora ao longo desses 27. Foi em Ouro Preto que vivi o início e o fim da experiência de uma vida a dois. E por mais que não tenhamos controle sobre o futuro, é e sempre vai ser muito estranho pensar que, por querer ficar junto, eu indiquei meu então namorado para a vaga de trabalho com a qual ele perderia a vida um tempo mais tarde.
Estive na cidade um dia depois do acidente, para encontrar a amiga-irmã que tínhamos em comum e seguir para Muriaé, sua cidade natal. A cada passo, sentia como se uma faca de mil pontas perfurasse meu coração, sem exageros. E tinha prometido a mim que jamais voltaria àquele lugar.
Mas quem já viveu em Ouro Preto sabe que ali não se escolhe ir ou não, é a cidade que escolhe te chamar. É algo que não se explica, há tentáculos invisíveis que te puxam e te levam. E assim eu fui criando coragem, até decidir que eu precisava caminhar por aquelas ruas e tirar de mim tudo de ruim que eu carregava. Então, no último fim de semana, chamei uma amiga, peguei o carro e fui.
E foi reconfortante!
Eu pude me lembrar do quanto a cidade é linda e possui um jogo de luz naturalmente encantador. Em Ouro Preto não se precisa de filtros nem de câmeras ultra modernas. Qualquer ângulo, qualquer cantinho rende uma boa fotografia. As pessoas que por ali andam são despretensiosamente sofisticadas e não há local inapropriado para uma boa leitura, um bom café ou uma boa conversa. Um clima cosmopolita que não se encontra em outras cidades de Minas. Ao contrário da depressão previamente calculada por quem conhece minha história, senti a paz que eu tanto precisava. Não foi sem razão que a cidade havia me chamado.
Foi bom voltar e recordar que eu vivi ali, que fiz parte daquele lugar e que toda sua atmosfera também faz parte de quem eu sou hoje. Que, no final das contas, as coisas aconteceram como tinham que acontecer e remoer o que passou só serviria para mais sofrimento.
No último final de semana, reconciliei-me não com Ouro Preto, mas comigo mesma, ao aprender que quaisquer lembranças, sobretudo as boas, serão eternas em mim, não nas cidades.
Ouro Preto é bem mais que um retrato na parede. E já não dói. Que bom!
lindo minha querida! e que bom que sua volta a Ouro Preto foi mais um aprendizado de que tudo o que vc viveu ficará para sempre dentro de vc! Amoooo demais da conta viu..muita saudade!
Lindo texto, Ana. Quero ir para OP com você! Beijo e saudade
Ana,
quem me indicou seu blog foi a Ana Paula Martins. E foi uma bela indicação. Amei o texto. Sou ouro-pretana, mas vivi 18 anos em outra cidade. Voltei a ser moradora e tenho, constantemente, essa sensação de redescoberta. Amo a minha cidade e fiquei emocionada com o seu relato.
Abraço!
Aline, fico contente que tenha gostado. Muito obrigada! Ouro Preto é fascinante, né?! Agora que sabe o caminho, fique à vontade para voltar e clicar quando quiser. Abs!
Nossa, que história mais linda, Ana! Cheguei a me emocionar enquanto ia lendo e vendo os cenários. Do jeito que você escreve bem, vale um romance, já pensou em escrevê-lo?
Beijos e obrigada pela visita no meu blog; agora virei fã do seu também 🙂
Lígia, obrigada pela visita. Fico lisonjeada com o elogio e com uma sensação de que ganhei o dia. A casa é sua. Volte sempre! 🙂