Em busca do fio da meada

Quando eu tinha 13 anos, na 7ª série, o colégio em que eu estudava passou a oferecer um curso de bordado em ponto cruz durante as tardes. Coisas de interior de Minas. Eu, moça chegada nos artesanatos que era, comecei a fazer as aulas, passando a dominar a técnica em poucos dias. Pra quem não conhece e como o próprio nome já diz, é um tipo de bordado em que a gente vai fazendo cruzinhas em um tecido furadinho, variando o número de pontos e de cores até formar uma letra ou desenho.

Exageros à parte, fazer bordado em ponto cruz exige paciência, capricho e perseverança. Um bom bordado é descoberto pelo verso, não pela frente. E um projeto simples, como uma toalha, por exemplo, pode demorar dias. Também é preciso material. Boas agulhas, um tecido com quadradinhos furados, bastidor (opcional) e mais aquilo que faz a mágica acontecer: a linha. Conforme aprendi, o melhor fio para o ponto cruz é o fio da meada, mais fino e macio que os outros.

Assim, eu e minhas amigas bordadeiras fomos montando nossa maletinha. Agulhas, tesoura e linhas. O fio da meada pra mim era esse. E perdê-lo, até então, significava nada além do literal: não conseguir finalizar o trabalho.

Mas o tempo vai passando e a gente percebe que perder o fio da meada não é tão simples quanto parece. Aliás, a metáfora é bem mais difícil. Encontrá-lo é tarefa árdua, solitária e silenciosa, pois só a gente pode dar notícias de onde ele estava quando foi perdido. Há que se revirar tapetes, reabrir caixas e vasculhar gavetas da mente e da alma. Elimina-se muitas coisas nesse processo, ao passo que se redescobre outras guardadas há tempos. E dói de um tanto perceber as certezas virando dúvidas, sentir os braços curtinhos perto de tanto mundo e desamarrar o monte de corrente invisível com que a gente se prende que você até imagina. É o tempo em que a inspiração viaja para que possamos olhar pra dentro, arrumar a casa e reaprender a olhar pra fora de novo.

O primeiro semestre já se vai. E me despeço com um sorriso largo e dando tchauzinho para um período meio cinza, meio indefinido, de perda total do fio da meada. Foram muitos convites irrecusáveis, muitos aceites incalculados e muito workaholismo drenador de energia. Foi uma grande perda de alguém especial, uma grande confusão de família… Foi muito tudo, inclusive aprendizado. Ficou certeza de dias melhores e gratidão pela força extra.

E tanta transformação interna pede casa nova, mais sustância das letras e ainda mais cuidado e planejamento. O post de hoje é só uma janela aberta pra contar aos vizinhos que tô cuidando de tudo. Que o drama não acabou, mas mudou de sentido porque a dona agora é do tipo que engole o choro e está desatando nós como ninguém. Dizer pra você não demorar a voltar com seu café fresquinho, que em breve mesmo eu tô de volta! café fresquinho

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