Sobre namorar – parte 2

Agora a responsabilidade é grande. Depois do texto de Artur da Távola, espero que o meu faça jus aos cliques por aqui, rs.

Continuando…

11 anos e alguns namorados depois (não entremos em detalhes, já que a moça aqui é de coração suburbano generoso) eu até posso dizer que quase me profissionalizei no assunto: uma namoradeira. E aí vem o que aprendi com isso tudo.

Em primeiro lugar, só consegue namorar alguém quem já descobriu o quanto pode ser delicioso namorar a si mesmo. Quem não liga de ir ao cinema sozinho, encara bem um domingão à noite e é capaz de passar duas horas preparando sua refeição predileta, ainda que sem companhia para o almoço. Traduzindo: só consegue namorar alguém aquele que sabe que o amor próprio vem sempre em primeiro lugar. Outro clichê mais que verdadeiro.

E aí, namorar alguém:

É deixar de dizer eu para dizer nós, com tudo que isso implica. É acreditar que nesse mundo louco, em algum lugar, tem alguém em sintonia com você, que te conhece e sabe que você não gosta de atrasos na TPM – e em qualquer dia –, nem de mentiras, nem de desculpas esfarrapadas, mas que você adora chocolates-surpresa e que seu mau humor só vai durar os 20 primeiros minutos do filme.

Namorar é presentear o outro inesperadamente. Em uma terça qualquer comprar um travesseiro porque o descanso alheio também se torna importante. É estar P* da vida, e ainda assim, querer saber se o outro se deu bem naquela entrevista de emprego, se arrasou na apresentação do curso ou se o trabalho deu certo.

Namorar é mudar de cidade pra ficar junto, ou então enfrentar horas de viagem de ônibus só pra passar outras tantas com o outro. É esperar ligação e mandar e-mail fora de hora. É topar ficar em casa porque um dos dois não tem grana suficiente para sair. Ou então, bancar o outro com boa vontade, porque a gente sabe que, em tempos difíceis, o mais importante é não perder a diversão.

Namorar é esperar por almoços de domingo, é respeitar o sono do outro (e às vezes não, mas ainda assim por uma boa causa). É acordar junto e achar o outro lindo quando acorda, seja ao meio dia ou às cinco da manhã.  É fazer planos de futuro próspero, de viagens longas e de nome dos filhos. É se preocupar porque o outro não fez aquele exame de saúde prometido, pedir que ele não corra ao volante ou evite falar ao celular, para não se distrair.

Namorar é trocar, com gosto, as multidões de Carnaval pela companhia de uma só pessoa. É não dar a mínima para o temporal que não cessa, porque quem importa está ali com você. É olhar uma vitrine e imaginar o quanto o outro ficaria bem com aquela camisa. É levar um brigadeiro da festa porque ele adora. É lembrar num gosto, num cheiro ou numa imagem.

Namorar é esperar, com os olhos brilhando, no aeroporto, na rodoviária, na porta da farmácia ou da padaria. É pão com canela no papel alumínio ao abrir a porta. É conseguir conversar por horas comendo sanduiche de trailer ou cachorro-quente de carrinho.

Namorar é lembrar em casa e lembrar no trabalho. É falar para os amigos o quanto você tem sorte por ter alguém que te faça feliz.

Faz parte de namorar discutir, ficar de mal, dramatizar… Faz parte de namorar fazer as pazes. E também faz parte de namorar reconhecer a hora de deixar que o outro siga sem você, com a tranquilidade de quem contribuiu, da melhor forma, para que em algum momento ele pudesse caminhar sozinho, ou com outra pessoa.  Porque nem todos os namoros são eternos, e há que se conviver com isso. Ou não haverá como namorar…

Se você namora ou já namorou alguém, provavelmente terá outros tantos tópicos para incluir neste texto. A gente sabe que nem sempre é fácil, mas não há dúvidas de que está entre as melhores coisas do mundo.

E se você não namora alguém, namore-se. Aproveite o tempo livre com que a vida tem te presenteado. Ouça as suas músicas favoritas no volume máximo, bagunce o quarto sem medo e faça tudo de que mais gosta. Não precisa desespero… Quando for a hora, você simplesmente estará pronto(a) para mudar o status.

Porque mais cedo ou mais tarde, todos descobrem o gosto de namorar…

Feliz 12 de junho!

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Sobre namorar – parte 1

É, minha gente… Dia 12 de junho está chegando.  Adoro escrever em datas temáticas! Foi assim com o Dia Internacional da Mulher e não poderia ser diferente com o Dia dos Namorados.

Quando eu tinha 16 anos, presenteei aquele que era meu primeiro namorado com um texto de Artur da Távola (mas que muitos atribuem a Drummond) que fala que “quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo”. É muito clichê, eu sei, mas ainda assim será o principal deste post. E não apenas porque faz muito sentido, mas porque o texto seguinte só virá a complementar as letras do autor.

Então vamos lá!

TER OU NÃO TER NAMORADO

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira. Basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter um namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira – d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações. Não tem namorado quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.

continua…